Historial

Em 1894, entrou em funcionamento em Vila Real a primeira central hidroelétrica portuguesa, por iniciativa de Emílio Biel, um alemão residente na cidade do Porto, notável empresário, editor e fotógrafo. A central hidroeléctrica, localmente conhecida como Central do Biel, manteve-se em funcionamento até 1926.

Em 1932, José Pires Granjo, um industrial vila-realense, adquiriu a propriedade. Ampliou as instalações para criar no local uma fábrica de curtumes, aproveitando a força motriz da antiga central e preservando desse modo a maior parte dos maquinismos oitocentistas. Nessa altura, a propriedade envolvente da antiga central hidroelétrica passou a ser conhecida como Quinta do Granjo.

A fábrica de curtumes funcionou até meados da década de 1950, ainda que o alvará desta unidade fabril, e portanto a expectativa de a reabrir, fosse renovado até 1966. Depois disso, as estruturas entraram num gradual processo de abandono, que seria revertido a partir de 2017, com a classificação de todo o conjunto como de interesse municipal e o subsequente processo de requalificação, concluído em 2024.

Num local anteriormente ocupado por moinhos ancestrais, de que restam alguns vestígios arqueológicos, a Central do Biel foi construída na margem esquerda do Rio Corgo, na zona da Cascata do Agueirinho, aproveitando assim um desnível natural com cerca de 25 metros. Pela sua dimensão, a cascata tornou-se um dos motivos preferidos de numerosos fotógrafos, desde o século XIX. Um deles foi o próprio Emílio Biel, que a fotografou pela primeira vez em 1892. Nesta zona, o rio corre fortemente encaixado entre as margens. Sob o ponto de vista geomorfológico, o exuberante relevo é dominado por escarpas assentes em granitos com mais de 300 milhões de anos.

No cimo da cascata foi construído um açude em alvenaria, seguido de um canal de derivação com 68 metros de desenvolvimento e 11 metros de altura máxima. A partir deste canal, a água era conduzida em queda até ao poço da turbina, através de um tubo de ferro com 30 metros de extensão e um metro de diâmetro.

O edifício da central compreendia o poço da turbina, a sala das máquinas e a habitação do maquinista, além de um vestíbulo de entrada. O terreno em que assentou foi em parte conquistado ao rio, mediante a construção de uma parede em alvenaria de granito, com sete metros de altura. O motor hidráulico montado na Central do Biel é uma turbina Knop, construída na Alemanha. Sob o arco de cantaria voltado para o rio, ainda hoje se conserva essa turbina hidroelétrica, a mais antiga de Portugal. Na sala das máquinas, instalou-se o veio geral de transmissão, bem como o regulador automático da turbina, dois dínamos e o quadro elétrico que geria a distribuição da luz pelas diversas zonas de Vila Real.

O caminho de acesso aos moinhos que havia anteriormente junto ao rio foi aproveitado no século XIX para servir a central, acrescentando-se-lhe algumas escadas em granito, e assim continuou a manter diversos trechos de calçada lajeada característicos da sua morfologia original, provavelmente com origem na Idade Moderna.

Para além da musealização da primeira central hidroelétrica portuguesa, um pouco por toda a área envolvente foram musealizados velhos percursos e diversos elementos da arquitetura popular de produção típicos da Região Demarcada do Douro, onde a Quinta do Granjo se encontra inserida, privilegiando sempre a recuperação das estruturas com recurso às técnicas e aos materiais originalmente utilizados.

Este património recuperado assume hoje uma importância rara, em particular no domínio da arqueologia industrial. Num sítio de características invulgares, também dos pontos de vista natural e paisagístico, a requalificação da Central do Biel e da Quinta do Granjo teve por base, em simultâneo, uma vertente museológica e uma vertente ecológica.